Cuidado

Atenção é necessária para prevenir quedas de árvores

Após mais de 300 espécimes irem ao chão no último ciclone em Pelotas, momento é de monitoramento e medidas para evitar transtornos e tragédias

Foto: Carlos Queiroz - DP - Com o solo molhado, as raízes tendem a apodrecer

Foram ventos acima de 100 km/h e mais de 300 árvores derrubadas em Pelotas. Fios, muros e vias foram afetados, incluindo uma vítima que morreu durante trabalho serrando galhação. Boa parte dos efeitos a longo prazo do ciclone que atingiu a cidade na última semana foram causados por árvores que não suportaram a força dos ventos, seja por questões estruturais, seja por não estarem aptas para ficar no local onde estavam. Por isso, é necessária atenção, já no plantio, para evitar que um dia se crie esse tipo de transtorno.

A reportagem convidou Paulo Roberto Grolli, professor de Floricultura e Plantas Ornamentais na Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), para circular pela praça Coronel Pedro Osório, onde diversas árvores tombaram. "Algumas não tem como evitar", pondera o especialista. Segundo ele, na região sul o solo é um problema, já que é bastante raso, fazendo com que as raízes fiquem superficiais e não se aprofundem mais do que entre 50 e 80 centímetros. "O solo tem uma camada impermeável, que é o que permite o cultivo do arroz irrigado. Ele retém água", exemplifica.

Em árvores como os jacarandás, da ala da praça que vai em direção ao Theatro Guarany, o sistema radicular ocupa uma área equivalente a uma vez e mais um terço da sua copa. "Quando ela não consegue aprofundar, não consegue ter uma sustentação", explica, dizendo que a raiz pivotante é importante para a ancoragem. Com a soma entre limitações para crescimento e vento forte, a receita para a queda está pronta.

Com o solo molhado, as raízes também tendem a apodrecer. Outro problema é a poda mal feita, que além do desequilíbrio, gera biodeterioração. Há, na praça, ainda, jacarandás que estão curvos ou pendendo, alerta Grolli. Outra preocupação é o apodrecimento do cerne por conta de fungos, penetração de água, entre outros fatores, causando a deterioração. "Tem que observar a copa. Se a planta começa a secar nas pontas, é porque ela está com um problema interno ou no sistema radicular."

E em casa?
As técnicas mais modernas para avaliar o sistema interno do lenho de uma árvore são o penetrógrafo ou o tomógrafo de impulso. No entanto, essas medidas são caras e pouco difundidas no Brasil. Uma saída é cuidar para que as árvores não formem forquilhas, onde se infiltra água e deposita matéria orgânica, pois com o tempo infiltra no lenho, reduz a densidade e apodrece. "E é uma coisa muito difícil de enxergar", alerta.

A qualidade das mudas é fator importante para prestar atenção. Na hora do plantio, é importante ter cuidado para escolher espécies não tão grandes, fazer podas, reduzir a área da copa para facilitar a passagem do vento. "Depois que ela está implantada, não tem muito o que se possa fazer", diz o especialista.

Trabalho do poder público
O diretor de ações ambientais da Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) de Pelotas, Eduardo Tejada, diz que os números finais de quedas e consequências do ciclone ainda não foram contabilizados, já que ainda está sendo feito serviço de limpeza. A cidade foi mapeada em 94 microrregiões dentro do projeto Ciclo Verde, onde é feito o manejo arbóreo com podas, avaliações e eventuais supressões. Após o ciclone, nos parques, avenidas e praças foi feita avaliação e o manejo. Nestas áreas ainda há árvores que passarão por remoção, mas elas não têm risco iminente de quedas, aponta.

Tejada diz que a pasta faz trabalho preventivo, com 800 árvores suprimidas no ano passado. "Tinham problemas, eram ou inadequadas, de grande porte, ou comprometidas, mortas, secas, com estado fitossanitário comprometido", indica. Ele diz que em alguns locais houve resistência da comunidade, como na Domingos de Almeida, quando 44 foram removidas e houve protesto. "Só que agora, no ciclone, não houve nenhuma queda na Domingos de Almeida. Então, aquele fator preventivo foi acertado", justifica. Tejada cita ainda as avenidas Duque de Caxias e José Maria da Fontoura como outras que tiveram efeitos diminuídos, mesmo em comparação com eventos climáticos de menor parte no passado.

Ele diz que a comunidade pode acionar a ouvidoria do Município através do telefone 156 ou a SQA no 3227-5442, caso detecte movimentação de solo ao redor da raiz, inclinação, balanço, entre outros fatores que geram preocupação. Tejada diz não haver motivos para pânico e que a Prefeitura irá acelerar medidas para fazer trabalho preventivo. O diretor ainda sugere que, dentro de áreas privadas, a comunidade pode pedir parecer e autorização, ou não, para supressão.

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